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A mostrar mensagens de 2017

Sócrates, a licenciatura, o poder judicial e a hipocrisia

Têm corrido rios de tinta sobre a acusação a José Sócrates. Muitos daqueles que o bajularam e a Ricardo Salgado são os mesmos que agora repetem, ou mandam repetir, as acusações contra Sócrates. Os tribunais hão-de julgar essas acusações. É assunto que neste momento não se vai aqui discutir. Mas há dois assuntos fundamentais nesta história que têm que ser discutidos e chamados pelos nomes: a questão da licenciatura e a manietação do poder judicial que Sócrates conseguiu durante o seu consulado. A licenciatura de Sócrates É hoje evidente, e já foi declarado pelo Ministério Público-embora este não tenha querido retirar qualquer consequência jurídica devido a um artifício legal- que a licenciatura de Sócrates em Engenharia pela Universidade Independente é nula. E o MP só não pediu essa nulidade porque entendeu que o Ministro Mariano Gago "curou" essa nulidade no Despacho de encerramento da Universidade Independente. Por isso, também é actualmente claro que o encerramen

Porque é que Costa e o seu PS ainda continuam a precisar de eleições antecipadas?

Defendi aqui que o actual chefe do Governo e secretário-geral do PS precisa, tal como o seu partido, de eleições legislativas antecipadas. A vitória eleitoral nas eleições autárquicas (39 por cento, cerca de 6 pontos mais do que a vitória “poucochinha” do anterior secretário-geral do PS, António José Seguro) não afastou essa necessidade. E eis porquê. 1 Houve quem dissesse que estas eleições eram a “desforra” nas urnas da derrota do PS nas eleições legislativas de há dois anos. Não são. O resultado destas eleições fez-se de resultados locais. E foi obtido com uma distribuição copiosa de aumentos salariais na função pública e nos reformados e pensionistas (até pouco menos de dois meses das eleições), em dinheiro bem sonante no final do mês mas também com promessas abundantes de ganhos futuros. O consumo interno e o crédito aumentaram, em resultado do aumento do poder de compra. Mas esta política de distribuição de benefícios à função pública vai durar para sempre?  O PS

Porque é que Costa e o seu PS precisam de eleições antecipadas

O actual chefe do Governo e secretário-geral do PS precisa, tal como o seu partido, de eleições legislativas até ao final deste ano ou no começo do próximo, dois anos depois das eleições legislativas de Outubro de 2015 e dois anos antes das eleições de 2019. E eis porquê. 1 O PS foi derrotado nas eleições de Outubro de 2015. Mas está no Governo porque o seu secretário-geral que perdeu as eleições fez um arranjo com os dois partidos da extrema-esquerda parlamentar para lhe sustentarem um governo. O Governo em funções, e que decorre desse arranjo, tem legitimidade constitucional mas não tem legitimidade democrática. O seu poder não decorre dos votos expressos. O actual chefe do Governo, depois de dois anos de coligação parlamentar e de um Governo que diz não ter problemas, precisa de legitimar o seu poder nas urnas. Já mostrou tudo aquilo que pode fazer – tem agora de consultar o eleitorado sobre se deve ser esse o rumo. 2 O PS tem beneficiado do silêncio cúmplic

António Costa: o filho de Maduro e de Trump

Conheci, pessoalmente, o actual chefe do Governo quando ele era dirigente estudantil e/ou da Juventude Socialista. Trabalhando eu como jornalista (na área da educação), entrevistei-o para “O Jornal da Educação”.  O jovem António Costa não gostou de qualquer coisa que eu escrevi e dirigiu-me um protesto, já nem sei se directo ou indirecto, fazendo saber que não falaria mais comigo. Não dei grande importância ao incidente, até porque ele não a tinha. E eu não precisava realmente do jovem dirigente como fonte de informação. Encontrei-o, mais tarde, numa situação diferente e, tanto quanto me recordo, ele nem sequer me cumprimentou. E eu também não fui ao beija-mão. Nunca fui capaz de ter qualquer admiração pelo seu percurso político e se, para mim, ele procedeu com deslealdade para com o secretário-geral do PS que quis derrubar, o certo é que o problema era lá com eles. Também não gostei nada da atitude do então presidente da Câmara Municipal de Lisboa quando a capital foi alagada p

Pedro Passos Coelho: o estadista com azar

É possível que Pedro Passos Coelho não volte a ser primeiro-ministro. E acrescento já: infelizmente.  As sondagens (mas só de duas empresas) dão o PSD como constantemente em queda. Parte significativa do eleitorado (onde tem peso fundamental a função pública, já beneficiada com acréscimos salariais constantes pelo actual Governo) parece preferir o PS. Uma ala significativa do PSD, que parece não ter beneficiado com Passos Coelho, sente-se mais ambientada no “bloco central” e gostaria de substituir-se ao PCP e ao BE como muleta deste PS). Passos Coelho foi o rosto da austeridade a que o PS, em 2011, nos condenou. Ganhou bem as eleições desse ano mas talvez tivesse pensado que as coisas pudessem ser mais fáceis. Talvez esperasse que o PS assumisse as responsabilidades que teve na bancarrota. Mas não foi o caso. Manteve-se, no entanto, firme e determinado, não cedeu a um homem como Ricardo Salgado e é legítimo pensar que também deve ter dito “não” a outros. Não cedeu à pressão “irr

Universidade Independente.10 anos depois. Condenações?

Ontem, saiu a decisão de 1.ª instância referente ao caso Universidade Independente. Há muitas coisas importantes a referir relativamente a esta decisão.  A principal das quais é que absolveu todos os arguidos dos crimes essenciais, e que levaram a todo o frenesim de 2007. Assim, deu-se como não provada, e absolveram-se todos, da associação criminosa, das burlas, dos abusos de confiança, da corrupção, do branqueamento de capitais. Sobretudo, comprovou-se que a Universidade foi criada como um projecto sério, com ambições científicas e de inovação. Também se comprovou que o nenhum dos arguidos se apropriou de um cêntimo que fosse da Universidade e que os seus actos nunca visaram o seu benefício pessoal. Isto é muito importante de ser sublinhado. Os crimes pelos quais alguns dos arguidos foram condenados em penas suspensas respeitam à sua esfera pessoal e não representam qualquer desvio de fundos. Por aqui se vê que todo o processo foi uma inventona política de José Sócrates

Universidade Independente e Sócrates: Não há Justiça. Só teatro trágico.

Os casos Universidade Independente e José Sócrates têm como arguidos pessoas diferentes, mas têm uma grande semelhança: demonstram que não existe justiça em Portugal, apenas um teatro trágico. Tal como se viu nos fogos de Pedrogão ou em Tancos que o Estado não funciona, a realidade é que na Justiça há muito tempo que o Estado não funciona e todos "assobiam para o ar" utilizando aquela expressão hipócrita "à política o que é da política, e à justiça o que é da justiça". O problema é que a justiça tornou-se um problema político. É política e de lá não sai. O caso Universidade Independente começou em 2006, tendo tido notoriedade pública em 2007 com a efectivação de umas prisões preventivas, essencialmente por perigo de fuga. Uma dessas prisões foi declarada ilegal pelo Tribunal da Relação de Lisboa e o arguido libertado. O MP requereu a libertação do outro, de seguida, após essa declaração de ilegalidade.  Hoje passados mais de 10 anos, os arguidos já poderiam t

Em resumo...

Há duas semanas e meia morreram 64 pessoas num incêndio no centro do País, que deixou um rasto de prejuízos, feridos (mais de 200) e devastação como nunca antes se vira. Os responsáveis do Ministério da Administração Interna, do topo à base, andaram descontrolados. O Presidente da República disse que era o melhor que se podia fazer e depois tentou emendar a mão. Foi, praticamente, a última vez que apareceu em público o ainda primeiro-ministro. Os seus parceiros PCP e BE perderam o pio, mais ou menos ao mesmo tempo. Uma semana depois, o primeiro-ministro mandou fazer um estudo de opinião, achou que toda a gente estava satisfeita com ele e pirou-se para férias, para uma ilha espanhola. Entretanto, os mortos continuaram mortos, o rasto de destruição continua à vista de todos e o Presidente da República começou também a perder o pio. A ministra da Administração Interna fez saber que o incêndio florestal tinha sido grande, verteu umas lágrimas parlamentares e deixou que se generalizasse

Pedrógão Grande: os nus e os mortos

Os incêndios florestais são uma rotina. Afectam todos os governos. As responsabilidades são públicas e privadas. São lá longe, no interior, mais ou menos esquecido. Tem sido sempre assim. Mas nunca com tantos mortos. É isso, até, o que mais impressiona no caso de Pedrógão Grande. Além do facto de as mortes ocorridas (64, pelo menos, com todas as dúvidas que advêm da não identificação de corpos carbonizados e destroços por revolver) não terem sido, na sua maioria, em locais directamente afectados pelas chamas mas numa estrada pelo meio de árvores. Que se incendiaram. E para onde a GNR desviou o trânsito. Uma semana depois não há resposta para todos os enigmas. Nada parece claro. Não se percebe como as autoridades civis, policiais e políticas não agiram, agiram mal ou descoordenadamente. Olha-se para os números e as suspeitas de encobrimento são mais do que muitas. Não se percebe como é que falharam os sistemas da “protecção civil”. Não se aceita, ao mesmo tempo, a leviandade, a dem

Trump: e se nos informassem?

Num dos seus espaços de comentário na SIC, Miguel Sousa Tavares (que dificilmente se poderá considerar um modelo) proclamou que Donald Trump “não podia” ser presidente dos EUA porque — por estas palavras ou outras de sentido idêntico — vestia-se mal. Tanto quanto me recordo, não se referiu ao cabelo nem ao tamanho das gravatas do alvo da sua ira. Mas podia tê-lo feito. Este tipo de comentário é hoje o paradigma do que a imprensa portuguesa, em geral, publica sobre o presidente dos EUA e sobre tudo aquilo que é americano e que tem a ver com o domínio do poder executivo local (do aparelho de Estado às decisões de governo, passando pela política externa). Mas não só: é porque a mulher não lhe dá a mão, ou porque uma actriz famosa o critica, ou porque — lá chegaremos, se isso se souber — ele deixa o tampo da retrete levantado depois de urinar. Com Trump na presidência há meio ano, é quase impossível saber pela imprensa portuguesa o que realmente se passa na política interna e na polít

Sócrates: o mar de lama

Ainda não percebi se Sócrates representa uma excepção, ou teve azar porque esticou demasiado a corda e foi descoberto, não tendo, contudo, feito diferente dos outros. Se repararmos em tudo o que tem vindo a lume acerca do consulado de Sócrates, este foi um mar de lama, ou melhor, um mar de merda, em que ele se atolou e com ele o país inteiro. Os factos são inúmeros: -A falência do Estado Português e o recurso à "ditadura" da troika; -O colapso do BCP; -As negociatas do BES/GES; -O colapso da PT; -As negociatas da EDP; -O encerramento da Universidade Independente; -O Freeport; -A manipulação dos principais cargos da justiça. -A castração da TVI. E muitos mais haverá por descobrir.  Neste vórtice foram indelevelmente assassinados os caracteres de pessoas diferentes como Jorge Jardim Gonçalves, Filipe Pinhal, Manuela Moura Guedes,Fernando Lima, António Labisa,Rui Verde, e muitos outros, com ou sem razão. Mas, a realidade é que Sócrates criou um mundo

Como o politicamente correcto está a matar a democracia (2): o protofascismo

Há pouco tempo, tendo chegado à fila do supermercado com meia-dúzia de compras, fui interpelado pela empregada com um esforçado “Olhe, não se importa de dar prioridade?”. Ela apontou e eu vi a pessoa a que eu devia – por lei, já lá vamos – “dar prioridade”: uma jovem de vinte ou trinta anos com uma criança, que parecia ter talvez uns dois anos, num carrinho de bebé dos que parecem verdadeiros veículos de combate. Cedi. A criatura, que eu já tinha visto a passear-se calmamente no supermercado, pagou as suas ou três compras, e passou. Sem olhar para mim, sem agradecer. Mas, talvez apanhada de surpresa, produziu um “Obrigada” contrariado quando eu a interpelei: “Ao menos, agradeça.” A explicação de base para esta atitude está numa lei recente (Decreto-Lei n.º 58/2016, de 29 de Agosto), que define uma prioridade que é praticamente absoluta para todas as filas de espera. Abrange idosos, deficientes, grávidas e “‘Pessoa acompanhada de criança de colo’, aquela que se faça acompanhar de c

Como o politicamente correcto está a matar a democracia (1): a nova censura

Às 22h08 de ontem, sábado, dia 3 de Junho de 2017, houve mais um atentado terrorista que, à hora em que escrevo, tinha provocado 7 mortos e 48 feridos. Algumas testemunhas ouviram os gritos dos atacantes a referirem-se a Alá. Às 00h25 a Polícia londrina informava ter-se tratado de um ataque terrorista. Não sei a que horas fechará a edição diária do jornal “Público” mas não deve ser, decerto, antes da meia-noite. E, como em todos os jornais, haverá seguramente alguma margem horária, se houver notícias de última hora que o justifiquem. Portanto, o “Público” poderia ter noticiado o atentado, como tal. Mas não o fez. O que fez, em vez disso, foi uma pérola do jornalismo dos nossos dias (ou, melhor, de um neojornalismo que está a substituir o jornalismo em Portugal): no canto inferior esquerdo da primeira página, publicou o título “Várias pessoas atropeladas e esfaqueadas em Londres” e o texto “Novo ataque no centro da capital britânica fez várias vítimas na Ponte de Londres e num merc

Os negacionistas da realidade (eu)

Acredito que o Holocausto aconteceu. Não ponho em dúvida o sofrimento do povo judeu e a selvajaria alemã. Acredito que o 9/11 foi o resultado da acção de um grupo de terroristas comandados por Bin-Laden, e não uma conspiração da CIA. De um modo geral, a minha crença na realidade é a semelhante ao "reasonable man" do direito inglês.  Por isso, sinto-me à vontade para dizer que não acredito absolutamente nada nas "boas notícias" que supostamente aparecem sobre a economia portuguesa. Não quero com isto dizer que se estejam a falsear estatísticas ou números, mas apenas que esses números, à partida, não representam aquilo que está a ser assumido: que a economia portuguesa está numa rota ascendente e que tudo começa a caminhar para o melhor dos mundos, sendo apenas a dúvida se os "louros" se devem às fundações estabelecidas por Passos Coelho ou à magnífica gestão macroeconómica de Costa e Centeno. O que estamos a assistir são blips, semelhantes àquelas mola

Aconteceu!

Aconteceu! Assim reagiu João Salgueiro às notícias sobre o crescimento português nos últimos tempos, afirmando que não se havia feito nada para tal resultado. Na realidade, é bom quando a economia funciona sem o Estado, é sinal que milhões de pessoas tomam as suas decisões e movem-se sem estar à espera do Governo. Nesse sentido, a perplexidade de Salgueiro seria uma tradução das virtudes da economia livre: o governo não fez nada, mas a economia mexeu-se. É assim mesmo! Contudo, não é o caso. Devem existir muitas explicações para os números do crescimento recente português, mas nenhuma assenta numa visão de uma economia com fundamentos sólidos e a arrancar para um período de crescimento sustentado. Nada, mas nada de nada, foi feito para criar um quadro macroeconómico favorável ao investimento, à produtividade e à competitividade em Portugal, símbolos reais de qualquer crescimento.  Vivemos uma bolha de ilusão, trazida pelos mesmos arautos do socratismo, agora transformados em cos

O erro de Varoufakis e Portugal

O novo livro do antigo ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis,  Adults in the Room ,é muito interessante de ser lido apesar do seu inglês torturado. As ideias de Varoufakis são claras, e saímos convencidos dos seus argumentos. O que sobressai indelevelmente do livro é a importância, melhor, a completa predominância da Alemanha na União Europeia. Efectivamente, a força encontra-se toda na Alemanha e tal é reconhecido quer pelos Estados-Membros da UE, quer pelas outras potências mundiais, como a Rússia, a China ou os EUA. A UE é coisa alemã e não se deve lá intervir. Também é claro que a Alemanha vê o Euro como o seu Marco, sendo este a base da sua prosperidade. Assim, a Alemanha não admite "brincadeiras" com o Euro e com a política económica que o possa prejudicar, do seu ponto de vista.Por isso, as tentativas francesas de aligeirar a pressão à Grécia foram debeladas, sem pejo em humilhar os dirigentes franceses, seja Moscovici, seja o actual Presidente francês

Só aplaudo a Eurovisão

Os últimos dias foram de geral histeria colectiva: o Papa, o Benfica, a Eurovisão e o crescimento económico. Só aplaudo a Eurovisão. Finalmente, depois de inúmeras humilhações, ganhámos. E ganhámos bem, com uma música bonita. A visita do Papa foi uma visita envergonhada (sabe-se lá porquê) que nem um dia demorou. Não se consegue perceber porque razão o Papa foi tão parcimonioso no tempo que dispensou a Portugal. Haverá algum conflito entre ele e a nossa igreja comercial e conservadora? Estas visitas papais que não trazem mensagem de fundo, que não criam qualquer coisa, ou transformam qualquer realidade, assemelham-se a visitas de estrelas de rock. Vêm, dão o concerto e vão-se embora. No fim só fica o lixo da assistência. Deste Papa evangélico esperava-se mais, muito mais. Quanto ao Benfica é bom (sou do Benfica), mas o futebol ocupa demasiado espaço na esfera pública. Nada justifica o exagero comemorativo.  Finalmente, o crescimento económico. Sou daqueles que sempre criticou

Como o neojornalismo está a matar o jornalismo português

A última vez que me lembro de ver o que corresponde ao conceito de investigação jornalística foi há meses, no “Expresso”, sobre empresas “off shore” e lavagem de dinheiro. Mas a investigação parou de repente, depois de duas ou três referências a uma lista de “políticos” e “jornalistas” que seriam avençados do Grupo Espírito Santo. Não foi tornada pública, por motivos que, no exercício da liberdade de imprensa, soam a pouco sinceros. A investigação jornalística desapareceu da imprensa portuguesa. Os “casos” na esfera política, policial e/ou financeira resumem-se aos que já estão a ser investigados pelas autoridades policiais. Mas não foi só a investigação jornalística que desapareceu. A iniciativa também desapareceu. Hoje, salvo incursões por domínios sociais de maior ou menor relevância, a reportagem foi de férias. O desaparecimento da especialização matou a capacidade de iniciativa. Os apertos financeiros também. E o compromisso político a mesma coisa. O grupo empresarial e de

O Papa em Fátima. O triunfo da hipocrisia.

Qualquer católico que acredite no Evangelho e na primeira mensagem de Cristo: Deus é Amor, só pode ficar estupefacto com esta vinda do Papa a Fátima e do festival que a rodeia. Fátima e Nossa Senhora já tiveram visitas suficientes de Papas. Não lhes sentirão a falta. Paulo VI, João Paulo II, Bento XVI. Todos os Papas recentes, com a excepção do malogrado João Paulo I (que nem teve tempo para isso) vieram a Fátima. Mas tem que ficar a pergunta: o que isso adiantou para a Igreja e a comunidade portuguesa? Tudo se assemelha a um grande negócio e uma mão-cheia de cerimónias pomposas. Mais importante ( e este Papa tem sensibilidade para isso, quem não tem é a acomodada e conservadora Igreja portuguesa) era que o Papa se dedicasse ao sofrimento dos sem-abrigo em Portugal, ao exagero dos presos nas cadeias, à discriminação dos africanos e a muitas mais pechas sociais e económicas que afectam o país visitado por Nossa Senhora. Dirão que o Papa não pode resolver esses problemas. Pois não

Anestesia Colectiva

O mundo está aos trambolhões. Desde o Brexit, a Trump, ao Lava-Jato, à transição em Angola, às eleições francesas, os paradigmas a que nos habituámos estão em mudança. No entanto, olhamos para Portugal e a discussão é à volta do Benfica, do Sporting e das vacinas (esta última discussão até é importante e devia alertar para os perigos das amizades em demasia com a natureza: o comunismo vermelho fanático do século XX, tornou-se no ambientalismo verde fanático do século XXI..., mas esta é outra questão para discussão noutra altura). Contudo, Portugal é um país sem destino. Tem uma justiça que nem numa caricatura pode ser espelhada, uma economia que agoniza (apesar de estatísticas "positivas" que se sucedem, mas só devem alegrar alguns funcionários partidários que sempre tiveram emprego). Sobretudo, o país vive uma espécie de "vingança de Sócrates". Aqueles que apoiaram o desvario socrático estão de volta (mesmo já não se atrevendo a defender Sócrates) malham em Pa

O "milagre" português: mendigos e turistas

Portugal vive duas realidades. Uma descrita na imprensa, pelos comentadores e sibaritas afins. Um país em que tudo vai no melhor dos mundos e melhor estará daqui a uns meses.  Depois, há o país de quem anda nas ruas. Uma das coisas mais impressionantes é a quantidade de mendigos. Estão por todo o lado, surgem por todo o lado. E não são aqueles romenos, que justa ou injustamente, são acusados de pertencer a redes organizadas. Parecem ser pessoas sem pão e sem solo. E este é um facto, o número de mendigos aumentou e muito em Portugal.Quem se preocupa com eles? O Presidente da República parece que sim. Esperemos que não seja como a história do cão que só serviu para umas capas de jornal... Além dos mendigos, os desempregados que conhecia, continuam desempregados, os empresários que conheço continuam sem perspectivas de melhorias e desanimados. Por isso, não percebo onde está o crescimento? O metro tem as escadas rolantes avariadas. Os comboios para o Porto cheiram mal e estão enferru

O imposto europeu sobre os excedentes externos alemães

Lord Palmerston, antigo primeiro-ministro inglês, dizia que os países não têm aliados eternos, mas interesses eternos. É óbvio que esta é a regra básica da diplomacia internacional, por isso é ridículo os discursos que se fazem em Portugal e noutros países sobre a solidariedade europeia. Não existe, nem tem que existir. Quando muito há um bocadinho para a fotografia, e pouco mais.  Assim sendo, quando Portugal se põe na pedinchice à Alemanha, invocando o espírito da solidariedade europeia, está a perder tempo e dignidade soberana. No entanto, há um ponto em que Portugal e muitos outros (como Trump) têm razão, a Alemanha tem beneficiado com o Euro nas suas transacções externas. Esta moeda por ser mais fraca na relação cambial que o antigo Marco Alemão, facilita as exportações alemãs e cria um dos desequilíbrios mais acentuados na União Europeia, o dos excedentes externos alemães. Este desequilíbrio também é severamente perturbador do normal funcionamento da Zona Euro, tal como as

Dia das mentiras ou ano das mentiras?

Lê-se no jornal  que Centeno foi sondado para ocupar o lugar (inexistente nos Tratados) de Presidente do Eurogrupo. Só se pode calcular que seja a mentira do 1 de Abril, que eleva à potência máxima a mentira que este ano tem sido em Portugal. Dizem que temos um romance institucional entre Presidente da República e Primeiro-Ministro, mas a realidade é que foi o PR que esfrangalhou a estratégia do Governo para a CGD. Vamos agora ver os estragos que o arauto Marques Mendes vai fazer acerca do Novo Banco... Mas, a alta política (ou baixa) não é o mais importante. Importante é a falácia que corre sobre a economia.Anuncia-se que tudo vai no melhor dos mundos, o déficit baixo, a economia a crescer, o desemprego a descer, e etc. Não acredito num milímetro que seja destas notícias. A economia portuguesa está enferma desde 2000. Não tem competitividade, produtividade, flexibilidade. Não adquiriu nada disto este ano. Talvez tenha tomado um copo de espumante que a inebriou um pouco...Mas es

Sondagens, função pública, compra de votos e má memória

O jornal “Expresso” e a empresa Eurosondagem têm sido, nos últimos meses, os únicos protagonistas de sondagens políticas que visam a posição eleitoral, ou pré-eleitoral, dos principais partidos e muito, ainda, em função das eleições legislativas de 2015. São, por um lado, as eleições mais recentes e são, por outro, as que deram origem à bizarra aliança governativa dos partidos derrotados contra os dois partidos que, organizados em coligação, venceram as eleições. A tendência registada tem sido constante: o PS vai subindo nas intenções de voto e o PSD vai descendo. São resultados que até podem ser genuínos (embora falta a prova de outras) e que, obviamente, alimentam expectativas de uma maioria absoluta do PS e o desespero dos adversários externos e internos do presidente do partido que efectivamente ganhou as eleições de 2015. Estas sondagens representam, em termos de intenção de voto, uma reviravolta: derrotado nas urnas quando era partido de oposição, o PS parece beneficiar do

Sócrates: o PS foi cúmplice ou corno?

J osé Sócrates disputou as primeiras eleições, que ganhou, como secretário-geral do PS, em 2005. Tinha sido ministro do Ambiente no governo anterior. Ganhou as eleições seguintes, na mesma situação, em 2009. Este mandato não chegou ao fim quando o Estado, governado pelo PS, chegou a uma situação de pré-bancarrota. Sócrates levou consigo para o Governo, e como secretário-geral do PS, suspeitas (que o sistema judicial nunca confirmar nem infirmar) sobre assinaturas “de favor” numa câmara municipal, vantagens obtidas com a Central de Compostagem da Cova da Beira, uma licenciatura de validade discutível por uma universidade privada que o seu governo obrigou a fechar e suspeitas de favorecimento patrimonial, enquanto ministro do Ambiente. O PS, que se saiba, nunca levantou dúvidas sobre estas matérias. E quando, por causa do “caso Freeport”, Sócrates fez um grande alarido sobre a “campanha negra” de que estaria a ser vítima, o PS apoiou-o. A Operação Marquês, que o levou à prisão pre

Portugal está um país perigoso

Olha-se para o que se passa à nossa volta e uma sensação shakespereana (passe a expressão) toma conta de nós: "Something is rotten in the state of Denmark.", dizia Marcellus na peça do autor inglês. Pois, a mesma podridão perpassa o Estado português e as suas instituições. Uma podridão lenta, nefanda, que se insinua sem se dar conta, mas está lá, no centro do poder, de todos os poderes. Portugal é um país pacífico, a criminalidade corrente é diminuta (embora as prisões estejam cheias!). A criminalidade portuguesa é a alta criminalidade e encontra-se praticamente localizada entre o Terreiro do Paço e a Avenida da Liberdade. Contudo, a questão não é de mera criminalidade. É mais ampla: é de perda de sentido de Estado, desagregação da comunidade política. Vejamos vários exemplos. Por razões ainda não publicadas (na hora a que escrevo) o Supremo Tribunal declarou que o Juiz Rui Rangel estava impedido de julgar o caso de Sócrates por não ser imparcial. Esta declaração não é