Fernando Lima. O livro. O assalto ao poder de Sócrates a cobardia de Cavaco Silva e a Universidade Independente.
Fernando Lima, assessor vitalício de Cavaco Silva, quer como primeiro-ministro, quer como presidente escreveu um livro denominado "Na sombra da presidência. Relato de 10 anos em Belém". Porto Editora, 2016, 430 pp.
De imediato foi submetido a um barragem mediática dos opinadores habituais, que com a excepção de Henrique Monteiro, o desvalorizaram o livro, insultaram o autor, oscilando entre chamá-lo tolo ou paranóico. Curiosamente, os críticos do livro são, grosso modo, os mesmos que criticam a entrevista de Carlos Alexandre...
Aposto que a maioria não leu o livro, apenas os resumos jornalísticos.
O livro merece ser lido. É evidente que tem muita "palha". Das 400 páginas, 300 são uma espécie de história política dos últimos 10 anos apoiada em recortes de jornal e blogues. Não adianta, nem atrasa.
Também existem demasiados personagens por identificar, e nessa medida a narrativa torna-se confusa e perde força. Acresce que não existe qualquer descrição dos "inner workings" da presidência.Era interessante saber como funciona o Palácio de Belém por dentro, como reagem as pessoas, como se comporta o Presidente perante uma crise, quem são os seus homens-fortes, etc. Nesse aspecto o livro falha.
Contudo, há cerca de 100 páginas que são interessantes e consolidam uma visão que uma boa parte da inteligência burra portuguesa prefere ignorar ou fingir que não aconteceu.
É a história da tentativa de domínio absoluto por parte de José Sócrates e seus apaniguados do poder em Portugal. O assalto ao poder. Essa tentativa de domínio estendeu-se a todas as áreas: Justiça, Banca, Comunicação Social, Grandes Empresas e naturalmente política. Já se percebeu que teve vários cúmplices, uns voluntários, outros nem percebendo o que faziam. Na justiça, na banca, na comunicação social e por aí adiante.
É a história da tentativa de domínio absoluto por parte de José Sócrates e seus apaniguados do poder em Portugal. O assalto ao poder. Essa tentativa de domínio estendeu-se a todas as áreas: Justiça, Banca, Comunicação Social, Grandes Empresas e naturalmente política. Já se percebeu que teve vários cúmplices, uns voluntários, outros nem percebendo o que faziam. Na justiça, na banca, na comunicação social e por aí adiante.
Um dia devia-se fazer a história completa e integral do ataque de Sócrates que envolve uma série de instituições diferentes e várias vítimas. BCP, Jardim Gonçalves e Filipe Pinhal, TVI, Manuela Moura Guedes e a sua equipa, Presidência da República e Fernando Lima, Sol e José António Saraiva, Universidade Independente e Rui Verde, e muitos outros. Obviamente, que alguns terão dificuldade em ver este conjunto e sempre dirão que estamos apenas perante casos de polícia nuns casos, que não se podem misturar com os outros. Passe a expressão, é "treta".
Como resulta do livro de Fernando Lima, está tudo ligado. Vejamos, ele fala de um estranho assessor do primeiro-ministro que viajou à Madeira na comitiva do Presidente da República, sendo que a Madeira era um dos principais alvos de Sócrates para desgastar Cavaco. Esse assessor chamava-se Rui Paulo Figueiredo, era assistente de Rui Verde na Universidade Independente, onde tinha sido colocado por indicação de Sócrates ao reitor Luís Arouca. A Universidade Independente era a única universidade onde Alberto João Jardim dava aulas como Professor Convidado.
Aliás, o próprio Fernando Lima reconhece (p. 129) o papel "fundador" do caso Universidade Independente no início da queda de Sócrates e o susto e agitação institucional que tal provocou ao mais alto nível do país. Será a primeira vez que que existe um fricção entre Cavaco e Sócrates, mas em que Cavaco, claramente por cobardia, evitou tomar posição pois "entendia que, decorrido um ano de mandato presidencial, era mais importante preservar as bos relações com o primeiro ministro."
Aqui teve Cavaco Silva a oportunidade de "travar" Sócrates e aqui a perdeu, com as consequências para o país que se conhecem.
Por isso, pela sua incapacidade de agir, pelo seu imobilismo, Cavaco não será nunca recordado como um bom Presidente.
Por isso, pela sua incapacidade de agir, pelo seu imobilismo, Cavaco não será nunca recordado como um bom Presidente.
Vê-se também no livro que no caso BPN a solução "nacionalização" com a entrada de Francisco Bandeira,homem de confiança de Armando Vara, teve alguma semelhança, em termos estratégicos, com a decisão de fecho da Universidade Independente e o envio para lá de uma força de choque da Inspecção-Geral. Num caso, Universidade Independente, quiseram apoderar-se dos documentos que comprometiam Sócrates e abafar de vez que este não tinha obtido a licenciatura de modo legal. Não conseguiram. No outro caso, BPN, quiseram apoderar-se de documentos que comprometiam Cavaco Silva nalgumas operações financeiras que seriam entendidas como pouco transparentes. Conseguiram, e ainda hoje se está para saber o grau de condicionamento que a existência de certos documentos no espólio do BPN tiveram no comportamento presidencial, como por exemplo na falta de independência da justiça de que ele é o garante, nos casos de Noronha do Nascimento, Pinto Monteiro, Lopes da Mota e muitos outros.
Estranho na história de Fernando Lima são as referências a Luís Montez, genro de Cavaco Silva. Subentende-se que este seria a "fonte" de muitas reportagens do jornal Indepedente, quando o sogro era primeiro-ministro, e que de alguma maneira Sócrates o teria "metido no bolso" permitindo através do BES de Ricardo Salgado que Montez ficasse solvente, após uma série de problemas financeiros, e se lançasse em grandes negócios com a PT ( de Salgado, como hoje se sabe).
Todos estes dados estão indiciados na obra de Fernando Lima e por isso vale a pena lê-la.
Jornalista que sai muito bem da narrativa é Rui Costa Pinto, jornalista que sai muito mal é João Marcelino.
Resumindo, a ler.
Temístocles Menor
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