Mensagens

A mostrar mensagens de setembro, 2016

Fosun e BCP. A falta de racionalidade da operação

O grupo chinês Fosun vai entrar no capital do BCP, agora que a Sonangol não tem dinheiro.  Segundo informações públicas, a entrada desse grupo obrigou o governo português a mudar a lei aprovando um regime que permite "às sociedades admitidas à negociação em mercado regulamentado procederem ao reagrupamento das suas ações, fora do âmbito de uma redução do capital social". Simultaneamente, parece que o grupo chinês beneficiará de um desconto de 10% face ao valor das acções de mercado. Chineses, angolanos, paquistaneses, russos, alemães, americanos, haitianos, todos são bem-vindos ao mercado português, desde que venham jogar segundo as regras, sejam credíveis, e as operações decorram de modo transparente, e no fim deixem dinheiro para Portugal e os portugueses. Mudar uma lei para agradar a um investidor é logo algo que levanta suspeitas. Conceder um desconto de 10% numa altura em que as taxas de juro são baixíssimas, bem como as cotações do BCP, é uma enormidade.  O BCP

A aliança Sócrates – Costa

Não é possível imaginar que a ofensiva política, e pública, de José Sócrates esteja a ser feita contra a vontade ou sem conhecimento de António Costa.  O “negociador” incensado pela Imprensa não poderia deixar os seus créditos (e o seu futuro) por mãos alheias, até porque Costa precisa de Sócrates e Sócrates precisa de Costa. Sócrates, já o reconheceu, quer ser Presidente da República. Enquanto não o puder ser, ou se pura e simplesmente não o conseguir ser, contentar-se-á com a chefia do PS, o que é natural. E, naturalmente, com o cargo de primeiro-ministro. Costa não o pode querer. É por isso que o alheamento de Costa face à ofensiva de Sócrates é só aparente. Se não há uma aliança clara e organizada entre os dois, há pelo menos um pacto de não agressão que não nasceu de geração espontânea. Sócrates, como se tem visto, tem o PS na mão, dominando parte da clique dirigente e muitos sectores intermédios.  A demora na acusação da “Operação Marquês” (não por falta de indícios ma

O governo dos mágicos !

Assombro! Assombro é a palavra que explica o que sinto face às notícias que o governo transmite. O ministro da saúde anunciou que no fim das contas a passagem das 40 horas para as 35 horas semanais tinha ficado mais barata. Assombroso! Primeiro, ainda julguei que ficava mais barato trabalhar apenas 35 horas  do que trabalhar as 40 horas, mas depois percebi que não era assim tão assombroso. Afinal, somente a transformação tinha ficado mais barata que o previsto. Ainda que menos assombroso, assombroso na mesma. Mas, assombro maior é o que resulta dos números da execução orçamental. Num país estagnado, o déficit diminui e a despesa, como asseverou o novo oráculo dos Domingos, está controladíssima.  Temos um governo de mágicos! O governo de Passos Coelho, Vítor Gaspar e Maria Luís, que têm aspecto de durões nunca conseguiu estes milagres- todos os meses havia derrapagens e rectificações-, agora surge Centeno de Harvard, com aquele ar de "nhanhas" e controla a despesa. Fant

O livro de Saraiva, José Sócrates, Paulo Portas e outro assunto

Pedro Garcia Rosado já escreveu no Tomate , e bem, sobre o livro de José António Saraiva. Não vale a pena repetir. Vale sim referir aquilo que é referido sobre José Sócrates e o impacto da sua licenciatura nula, bem como a conivência da justiça com o ex-primeiro-ministro. Na página 156 do livro Saraiva refere uma confidência de Durão Barroso,  que teria afirmado que o problema da licenciatura o tinha afectado (a Sócrates) e que num país normal tal evento tê-lo-ia forçado a demitir-se. Tem razão Durão Barroso. A questão da licenciatura foi, e é, o calcanhar de Aquiles de Sócrates, sempre presente, que demonstrou a sua vacuidade e inconsistência. Daí o ataque frontal à Universidade Independente. E só não levou à demissão de Sócrates porque Cavaco Silva se acobardou e não quis levantar ondas, como confirma Fernando Lima no seu  livro . Sobre este assunto mais uma clarificação bem-vinda. Anteriormente, na página 85, José António Saraiva conta que um dia Freitas do Amaral lhe apare

Abençoado euro!

O sistema financeiro e económico que decorre da inclusão de Portugal na zona da moeda única da União Europeia é bom para o País ou não? Numa perspectiva doutrinária e económica, pode ser…como não ser. As opiniões variam e quase todas elas são merecedoras de atenção. Há, no entanto, uma inegável vantagem para Portugal, neste preciso momento: a moeda única e a nossa integração na Zona Euro são as únicas fronteiras ao desvario absoluto do governo da coligação PS-BE-PCP. Vivemos, de certo modo, e de uma maneira que ainda alimenta muitas ilusões (embora em regime de pensamento mágico), um segundo PREC.  O Processo Revolucionário em Curso (o chavão que acabou por caraterizar essa época) de 1974 – 1975 teve uma componente de tentativa multifacetada de controlo do poder político e económico por parte da esquerda e das várias extremas-esquerdas. Havia militares armados de um lado e do outro. O PS, seguro de que o poder viria a ser seu, distanciou-se desde cedo do PCP e dos restantes extr

As velhas ideias da nova Mariana

Mariana Mortágua é mulher, nova, bonita e idealista.  Curiosamente, estas excelentes qualidades têm sido aquelas que mais têm sido criticadas e objecto de ataques. Todavia, estes são aspectos bons a realçar na nossa deputada. O seu problema são as ideias. Ideias velhas, burras e que condenam o país à indigência.  Mariana anda entusiasmada a defender novos impostos. Nada de novo nisso. O anterior governo da suposta direita fez o mesmo. Apenas agora se tentam afinar as incidências dos impostos, mas o problema é sempre o mesmo, há impostos a mais, e isso é mau, e redutor das potencialidades da economia. Quem está no governo tem uma imaginação pródiga na busca de fontes de receitas públicas. As diferenças não são entre direita e esquerda, são entre estatistas (quase todos) e anti-estatistas (quase ninguém). E o facto de Portugal ser um país de estatistas, de direita ou esquerda, é que o torna alvo fácil dos apetites de políticos demagógicos e com tendência a querer lançar impostos.

A indignação contra “Eu e os Políticos”: uma lição de hipocrisia

Há por aí, segundo consta, um livro que conta “segredos sexuais” ou “revelações sexuais” dos políticos. Parece mal, há até quem diga que é crime, todos aqueles que exigem “transparência” aos políticos choram lágrimas de indignação.  Trata-se de “Eu e os Políticos”, de José António Saraiva (ed. Gradiva), que foi director do “Expresso” e do “Sol”, que (suscitando todas as mais piedosas inquietações) até tem um buraco de fechadura na capa e uma apresentação algo sensacionalista: “O que não pude (ou não quis) escrever até hoje – O livro proibido”. Fui comprá-lo e lê-lo, tendo assim cometido um pecado, um sacrilégio ou um crime (depende do grau da indignação encenada). Encontrei 260 páginas de apontamentos memorialistas sobre 42 figuras públicas, das quais nem todas são políticos. E encontrei “segredos sexuais”? Bom, nas 260 páginas informa-se o leitor de que: 1. P. P. é homossexual – como se não corresse há anos a informação e nem foi necessária a reportagem do jornalista Rui Araújo

Fernando Lima. O livro. O assalto ao poder de Sócrates a cobardia de Cavaco Silva e a Universidade Independente.

Fernando Lima, assessor vitalício de Cavaco Silva, quer como primeiro-ministro, quer como presidente escreveu um livro denominado "Na sombra da presidência. Relato de 10 anos em Belém". Porto Editora, 2016, 430 pp. De imediato foi submetido a um barragem mediática dos opinadores habituais, que com a excepção de Henrique Monteiro, o desvalorizaram o livro, insultaram o autor, oscilando entre chamá-lo tolo ou paranóico. Curiosamente, os críticos do livro são, grosso modo, os mesmos que criticam a entrevista de Carlos Alexandre... Aposto que a maioria não leu o livro, apenas os resumos jornalísticos.  O livro merece ser lido. É evidente que tem muita "palha". Das 400 páginas, 300 são uma espécie de história política dos últimos 10 anos apoiada em recortes de jornal e blogues. Não adianta, nem atrasa.  Também existem demasiados personagens por identificar, e nessa medida a narrativa torna-se confusa e perde força. Acresce que não existe qualquer descrição dos &

Os juízes não podem dar entrevistas?

Numa análise superficial vi seis artigos de opinião doutos criticando a entrevista de Carlos Alexandre e de um modo geral exortando os magistrados a estar calados. José Sócrates, que enfiou o carapuço oferecido por Carlos Alexandre com demasiada facilidade. Francisco Loução, que segundo Fernando Lima é uma espécie de "lebre" do PS, Magalhães e Silva, advogado de grandes causas e verbo incisivo. João Gonçalves antigo blogger, antigo adjunto de Miguel Relvas, articulista e jurista, ligado ao PSD, um Professor chamado Lamas Leite, e alguém chamado Homem Cristo, colunista do Observador. O discurso, mais ou menos agressivo, acabou por redundar no mesmo. Os juízes devem aplicar justiça e estar calados. Pessoalmente, não apreciei a entrevista de Carlos Alexandre, não por ser a entrevista de um juiz, mas pela mesquinhez em que caiu ao falar de dinheiro, e ao choramingar-se perante um povo que realmente não tem dinheiro. Não é o caso de Alexandre. O seu agregado familiar recebe 8 m

Pode a sexualidade valorizar o currículo?

F.L., professor, poeta e tradutor, está a traduzir uma nova versão da Bíblia. É um facto cultural relevante embora, para todos os efeitos, nada vença a Bíblia dos Capuchinhos, de consulta fácil e à distância de meia-dúzia de cliques. O jornal “Expresso”, talvez para variar da recente moda jornalística de entrevistar actores, actrizes e apresentadores e apresentadoras (não é assim que se deve escrever?), resolveu entrevistá-lo. E na capa da sua revista apresenta assim o entrevistado: “(…) Um dos mais brilhantes intelectuais portugueses, homossexual assumido e autor da primeira tradução da Bíblia a partir do grego. Uma questão de fé.” Não se percebe bem a eventual relevância da última frase sobre a fé mas, aqui, o que interessa é a relevância da sexualidade do entrevistado. “Homossexual assumido” é aqui, pela ordem de construção do textículo da capa, mais importante até do que a tradução do grego.  Mas, quando se penetra no texto da entrevista, a dúvida adensa-se. São 69 as pergun

L`esprit du temps e a entrevista de Carlos Alexandre

Tivesse sido há um ano ou dois e a entrevista de Carlos Alexandre à SIC teria sido recebida com encómios e aplauso na opinião publicada. Estranhamente, desta vez as reacções foram comedidas e a maior das vezes críticas. Sócrates reagiu violentamente no Diário de Notícias. Enfiou o carapuço, e aliás enfiou bem porque ele lhe servia à medida. Um semanário publica um apelo do Presidente da República à reserva dos magistrados. Outro diário publica uma entrevista crítica com um economista do PS. Os apoiantes de Carlos Alexandre ficaram calados. Pode ser tudo coincidência, mas pode ser também sinónimo que há um refluxo e a justiça, em particular Carlos Alexandre, estão cada vez mais descredibilizados por só investigarem com o apoio dos jornais e terem dificuldade de fazer chegar peças sólidas aos tribunais. Parece que ou Carlos Alexandre dá um salto em frente,ou afunda enquanto figura pública e de referência. Começa a aparentar (embora sem certeza) que esta entrevista foi um tiro no p

Carlos Alexandre. O início da carreira política

O famoso juiz Carlos Alexandre deu uma longa e amena entrevista nos jardins do Museu de Arte Antiga à SIC.  Se esta entrevista não foi para começar a promover uma carreira política, foi para quê? Para conhecermos o homem por detrás das decisões judiciais mais mediáticas do país, será a resposta. Mas para que queremos conhecer esse homem? Ou por puro voyeurismo ou para empatizarmos com ele e começar a pensar votar na sua pessoa. Os indícios do passo político foram claros. Um linha política populista e de apego a raízes profundas lusas. Caracterizou-se como o "saloio de Mação". Uma "catch phrase" que o identifica, com um tom despreocupado e singelo, como próximo das pessoas. Enfatizou o trabalho e a religião católica. E fez o discurso suave anti-elites, além de ter a plataforma habitual da lei e ordem. Foi afirmando que tinha a sua carreira judicial parada e não ambicionava ir para a Relação, tornando manifesto que não sendo o seu objectivo a carreira judicial,

Stiglitz, a saída do Euro e a polícia do(s) costume(s)

Stiglitz, prémio Nobel da Economia disse o que é óbvio. Enquanto Portugal estiver no Euro sofrerá uma permanente estagnação económica. Por isso, deve sair do Euro. Outro Professor de Economia reputado e antigo consultor do Presidente Jorge Sampaio disse mais ou menos o mesmo há uns anos, e apesar de ter dado umas entrevistas para promover o livro que publicou acerca do tema, foi ignorado pelos poderes fácticos de Portugal. Outro professor caído em desgraça tinha escrito antes (2012)  um livro  que dizia expressamente "O impacto do Euro em Portugal foi a estagnação. O Euro não foi um arranque. Foi uma paragem. Na realidade, após a adesão ao Euro Portugal meteu-se numa camisa-de-forças. Não pode desvalorizar a moeda, a carga fiscal aumentou e a economia não cresceu". Por isso, defendia que " só há uma via para fugir do beco sem saída em que entrámos: a saída do Euro. A saída do Euro não é um drama como muitas vezes se quer apresentar. A história do Euro não é única –

Nicolau Santos falou

Não conheço pessoalmente Nicolau Santos, o sub-director do Expresso. De um modo geral discordo das análises económicas, muito próximas de Sócrates e de um "keynesiasmo" não defendido por Keynes. Mas simpatizo com a sua postura, talvez pelo laço, talvez pelo gosto comum por poesia, e certamente pela posição acerca de Angola, e por isso leio-o com atenção. O artigo do Expresso deste sábado (3 de Setembro de 2016) mata de uma penada aquela coisa a que se chama a política económica do governo. Escreve Nicolau que o endividamento está a crescer e que se está a repetir o cenário anterior ao pedido de ajuda externa em 2011. Segundo Nicolau caminhamos, de novo, para o desastre, a não ser que...haja um perdão de juros. Ele sabe, como todos sabemos, que um perdão de juros só é possível com um novo programa de ajustamento, mais ou menos disfarçado. Há uma coisa que talvez se comece a perceber. A economia portuguesa está metida num poço que não a deixa vir à tona chamado Euro. Qua

China e Portugal. Um equívoco em curso

A penosa situação a que foi chegando a economia portuguesa em que o Estado tudo absorve, os empresários só viviam à conta dos negócios públicos e o investimento privado era diminuto levou, como é público, à venda de todas as grandes empresas portuguesas. Uma boa parte foi entregue a angolanos. Sobre esse tema tem-se escrito e vai-se continuar a escrever noutros locais. Mas um breve resumo do investimento angolano em Portugal é que este foi essencialmente uma lavagem de dinheiro, não teve efeitos reprodutivos, está a gerar desemprego e falências. E no fim, após a mudança em Angola, serão exigidas contas dos desvios efectuados, e as participações em Portugal estarão na primeira linha. Outra parte da economia está a ser entregue a chineses. A China tem um cultura e civilização subtil, mas neste momento está a atravessar uma mudança significativa na sua liderança. Há uma política de reafirmação imperial por parte do líder Xi Jinping. Onde antes existia uma afirmação firme, mas tranquila