Mário Nogueira morreu

O actual governo acabou com os exames no ensino básico e alterou o regime das provas de aferição. Fê-lo quando já o ano lectivo tinha começado. Depois de algumas semanas de silêncio, a questão das provas de aferição (que implicavam uma avaliação do sistema no seu todo) foram transformadas em facultativas. As escolas que decidam. Os alunos vão sujeitar-se a mais uns testes que não servem para nada? Depois do fim dos exames, saudado de igual modo por pais e encarregados de educação com problemas de autoestima e pela informal vice-primeira-ministra Catarina Martins, é de duvidar.
A prova de avaliação destinada a limitar a entrada dos professores “contratados” num sistema educativo onde há cada vez menos alunos foi abolida por este governo. Ao mesmo tempo, e com o argumento da disciplina (na perspectiva de que os professores se devem substituir às famílias que preferem dar telemóveis aos filhos em vez de os disciplinar), já se põe a hipótese da redução do número de alunos por turma. É um expediente que vai pôr mais professores a trabalhar para o Estado, mesmo sem haver mais alunos. 
A progressão na carreira e os níveis profissionais e salariais dos professores (factores que são especialmente importantes para os que têm mais anos de carreira) estão congelados desde o primeiro governo de José Sócrates. Nem se fala nisso. E o congelamento continua.
A Federação Nacional dos Professores (Fenprof) teve dirigentes nacionais de qualidade intelectual como o teórico e pragmático António Teodoro e o lírico Paulo Sucena. Sucederam-lhes aventureiros que se julgavam iluminados. E depois Mário Nogueira, da ala mais troglodita do PCP. 
A estabilização profissional e salarial (até ao descalabro de Sócrates/Teixeira dos Santos) dos professores veteranos afastou-os da Fenprof enquanto Mário Nogueira preparava a sua ascensão.
À frente da Fenprof, Nogueira transformou-se no campeão sindical dos professores “contratados”. Ignorou todos os outros que já não achavam útil a Fenprof. Os apelos bélicos de Nogueira, ao longo dos anos, passaram a ter como público-alvo os “contratados” e as famílias em geral. 
Onde houvesse uma perturbação que prejudicasse a tendência dos papás e das mamãs para entregarem as crianças à escola, lá estava ele. Onde houvesse uma perturbação causada pelos “contratados” que queriam ir trabalhar para as escolas com ou sem alunos, lá estava ele. Onde havia escalões congelados e carreiras bloqueadas… não estava.
Mário Nogueira desapareceu de cena. Não se vê nem se ouve. Pelo menos em público. O Ministério da Educação, capitaneado por um jovem que desistiu da pesquisa científica para curar o cancro, se não lhe entregou a sua agenda política, parece.
Reina a calma em todo o país da Fenprof. Mário Nogueira, que vivia da gritaria, da contestação, do sobrolho franzido (como o seu chefe Jerónimo de Sousa), deixou de existir mediaticamente. Morreu. Resta dele uma espécie de ectoplasma num ministério pacificado por acordos feitos na sombra. 
Está tudo bem, portanto.

Pedro Garcia Rosado

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