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A mostrar mensagens de junho, 2015

Tradução mal feita, plágio ou analfabetismo

Em texto assinado (Nuno Cardoso) no "Diário de Notícias": "O projeto [televisivo], que será extendido a uma primeira temporada caso surja o interesse de algum canal [...]". Não há, em português, "extendido". Não existe o verbo "extender". Ou é uma tradução mal feita ("extend"), o que também roça o simples plágio, ou é um erro de ortografia, um miserável e idiota erro de ortografia. Era para evitar este tipo de asneiras de analfabeto que serviam as revisões e, à sua maneira, os chefes cultos. Costa Cardoso 

O fim da memória, o fim da investigação, o fim do jornalismo (2)

Pedro Garcia Rosado Há cerca de uma semana, o diário “on line” “Observador” publicou uma notícia com o seguinte título “Forças Armadas vão fazer vigilância dentro das escolas”. O “lead” era mais rigoroso: “O Conselho de Ministros aprovou alterações a um diploma que permitem agora o recrutamento de elementos das Forças Armadas na reserva para fazer vigilância nas zonas escolares.” “Forças Armadas” não são militares na reserva nem ex-militares mas, nos tempos que correm, esse desconhecimento nem é o pior dos pecados da imprensa que temos. A notícia não era muito esclarecedora, referindo-se a um anúncio do Conselho de Ministros, mas o pouco que se conseguia perceber mostrava que o sistema pensado (visando “complementar” o Programa Escola Seguro) não deve andar muito distante do que fora montado pelo Gabinete de Segurança. Não havia muitos mais pormenores mas havia espaço para as (inevitavelmente negativas) reacções de “militares”, de um director de uma escola e do PCP… a quem só falt

O fim da memória, o fim da investigação, o fim do jornalismo (1)

Pedro Garcia Rosado Penso que foi em 1986, último ano em que trabalhei na redacção do extinto matutino “o diário”,  que publiquei uma notícia que tinha, mais ou menos, este título: “Ex-militares e ex-polícias vão vigiar escolas”. Já não me lembro de onde me teria chegado a notícia. Os interlocutores privilegiados de “o diário” (que pertenceu a uma empresa do PCP chefiada por Mário Lino, mais tarde ministro das Obras Públicas de José Sócrates) eram os sindicatos (da CGTP).  Três anos antes eu tinha sido alertado pelo director de que não devia falar com membros do Governo. Falara com um louco que exerceu funções no Ministério da Educação e o aviso não se referia a essa particularidade mas ao facto de o Governo (PS, PS/PSD ou PSD) ser sempre o “inimigo”. No entanto, o facto de colaborar também no extinto “O Jornal da Educação” (que pertenceu ao grupo de “O Jornal”, mais tarde transformado na “Visão”) dava-me acesso legítimo a essas mesmas fontes, que não retribuíam da mesma man

"Cenarizar", "resiliência" e burros

No "Diário de Notícias", fazem uma festa com o verbo "cenarizar" (que me parece nem existir em português), na "Visão", que também não se recomenda, é a "resiliência" (a palavra inglesa para "capacidade de resistência") que chega à capa da publicação. Ou não sabem português, ou funcionam em regime de maria-vai-com-as-outras, ou traduzem mal, ou julgam que na língua também há modas como no calçado (poderá dizer-se que escrevem com os pés...), ou são burros. Não desfazendo nos simpáticos animais que, no ponto a que chegámos, seriam capazes de fazer jornalismo melhor do que muitos "jornalistas" portugueses... Costa Cardoso

Omissão de factos

Numa população activa superior a 10,3 milhões de pessoas, em que mais de 50 por cento da família não pagam IRS, há 5,8 milhões de pessoas isentas de pagar as taxas moderadoras, segundo uma notícia do "Expresso" de Fevereiro deste ano. Ou seja: mais de metade dos portugueses vai "à borla" aos serviços fornecidos pelo Serviço Nacional de Saúde. Só o pagam directamente (ganhem muito ou pouco) os restantes 4,5 milhões. O Serviço Nacional de Saúde sofre, pelo menos, daquilo a que se chama "subfinanciamento", sendo alimentado por uma parte dos impostos pagos por metade da população e por menos de metade dos seus potenciais utentes a preços de, por exemplo, 5 euros a consulta.  Talvez fosse conveniente ter isto em consideração quando se escrevem, à toa, coisas como "Acesso ao Serviço Nacional de Saúde ameaçado" ou "As consultas nos cuidados primários, sobretudo no Norte, as urgências dos hospitais recebem menos doentes mas entopem em período

Brancos são, galinhas os puseram

A divulgação do pitoresco duelo verbal entre o ex-primeiro-ministro e o procurador Rosário Teixeira é vantajosa para as duas partes: para os acusadores, é a possibilidade de darem mais um "sinal" do que anda a ser investigado; para Sócrates e para o seu igualmente pitoresco advogado, é a possibilidade de mostrar como o arguido, evitando as respostas esclarecedoras (alguém reparou que não há um "não" nem um "sim" formais?), se vai defendendo em formato de contra-ataque. As duas partes dispunham das gravações. As duas partes têm os seus contactos, mais ou menos directos, na comunicação social. As duas partes podem ter cometido o crime de violação do segredo de justiça. E a parte que o fez (se é que não o fizeram as duas) pode também tê-lo feito para entalar a parte contrária: se o "outro" tinha a gravação, não terá sido ele? Ah, e não vale a pena chorar mais lágrimas de crocodilo perante mais uma manifesta violação do segredo de justiça porque

Por que não?

Nunca percebi as razões para se obstar à venda da PT à ALTICE, que mais-valia específica trazia a PT a Portugal? Nenhuma. Apenas serviu para jogos e joguinhos financeiros entre supostos grandes gestores e financeiros. Não percebo agora porque não se há-de vender a TAP. Quem não prefere voar na Easyjet quando esta é mais barata? Qual a vantagem de ter uma empresa que pratica preços de monopólio para viagens ao Brasil e a Angola? O importante é haver aviões a voar de e para Portugal, sejam da TAP ou da Air Bolinhas.

Como morre o jornalismo de investigação na praia da "Operação Marquês"

A "Operação Marquês" e a detenção do ex-primeiro-ministro José Sócrates tornam-se nebulosas nas páginas dos jornais e nas reportagens tipo "enlatados" das televisões. Não são os dois factos em si (o inquérito e a prisão do principal suspeito) porque, aos olhos de que conhece menos os meandros judiciais e muito mais os meandros das redacções, não é difícil perceber que, como em muitos outros casos, a prisão preventiva mais longa e uma acusação mais demorada são, infelizmente, comuns em Portugal. Já menos comum é ver este tipo de jogo, até agora nunca praticado numa tão grande dimensão: o "Correio da Manhã", a "Sábado", o "i", o "Sol" e o "Expresso" alinham pelo Ministério Público; o "Diário de Notícias" e o "Jornal de Notícias" (de Proença de Carvalho) jogam por Sócrates; o "Público" tem dias; a RTP tenta equilibrar-se, a TVI favorece o ex-primeiro-ministro, a SIC ataca o Governo qua

Jornalismo (?) estúpido no "Jornal de Notícias"

O título é claramente afirmativo e não deixa lugar a dúvidas: "Resgatado homem acorrentado em cave há oito anos". "Resgatar" está associado a salvar e "acorrentado" não é algo que, por exemplo, se possa confundir com uma estadia num spa de luxo. O "lead" contraria a afirmação do título: "Um homem com cerca de 30 anos foi resgatado, esta terça-feira, da cave de uma casa na Amoreira, concelho [de] Cascais, onde, alegadamente, estaria 'preso' há oito anos." O "alegadamente" (enjoativamente importado do inglês) significa que há alguém que alega (afirma, acusa) mas que não se sabe se é verdade, o "estaria" também lança todas as dúvidas (não estava, mas talvez estivesse...) e o "preso", assim mesmo, entre aspas, diz-nos que (para citarmos o título), estar-se acorrentado afinal não é o mesmo que estar preso. Ou seja: no "Jornal de Notícias" far-se-á, alegadamente, jornalismo. Costa Cardo

Patetice estatística

A maior parte dos jornalistas portugueses vem de áreas de formação escolar que excluem desde muito cedo a matemática e isso nota-se. Nota-se de uma maneira pouco óbvia nas notícias que papagueiam números. Mas nota-se também no fascínio apocalíptico pelas estatísticas de que os casos mais memoráveis são a distribuição do número de emigrantes ou de mortos pelos dias do ano. É comum, e então nas televisões, mas não da maneira que hoje fez o "Público" na sua primeira página "on line" com dois títulos no mínimo patetas: "Portugal consome 13 sardinhas por segundo em Junho" e "Polícia dos EUA matou duas pessoas por dia este ano". Há quem chame a isto jornalismo. Costa Cardoso