ARTIGO- Fim de regime



Há, nestas coisas, uma impressão inultrapassável: um governo tem o fim à vista (ameaçado por uma crise política, pela movimentação dos seus opositores que o farão cair, pela contagem decrescente para as eleições legislativas ou apenas esgotado e incapaz de decidir e de aplicar decisões) e dele já nada se espera. Tem acontecido com frequência, sobretudo desde que em 1987 se abriu a época das maiorias absolutas.
Os últimos meses de Cavaco Silva em 1995 foram penosos, Guterres saiu antes do fim e o ambiente era o mesmo, Santana Lopes viu-se num impasse cujo fim foi precipitado pelo Presidente da República, José Sócrates arrastou-se politicamente nos últimos meses pré-“troika” e agora é este.
O governo de Passos Coelho e de Paulo Portas esgotou-se em termos políticos. Percebe-se que pouco mais decidirá, salvo o Orçamento de Estado para 2015 e, se o “timing” o permitir, ainda um Orçamento de Estado bondoso para 2016 por conta das eleições legislativas de Setembro ou Outubro de 2015. 
Nesta perspectiva – que é aquilo a que se tem chamado o “fim de regime” – seria naturalmente preferível antecipar as eleições legislativas, encontrar um fôlego novo, uma alternativa que pudesse conservar o que de positivo foi feito e novas formas de fazer o que falta, do domínio político (a começar pela revisão da Constituição) ao económico (evitar uma nova ameaça de falência do Estado).
O drama é que o PSD de Passos Coelho dificilmente ganhará eleições legislativas no próximo ano (e então antecipadas muito menos) e o que se perfila (o regresso do PS de Sócrates capitaneado por António Costa) é mau. Com algo que o torna pior: a completa ausência de propostas (e de ideias) sobre o que fará o PS de novo no Governo.
Nesta perspectiva, a antecipação das eleições seria um novo horror, atenuado por algum bodo orçamental aos pobres para começar mas depois… com mais do mesmo, segundo se pode supor.
Sem alternativas credíveis, e com tudo a jogar contra o actual governo e contra as consequências do que poderá ser o próximo, a impressão de fim de regime traz consigo uma nuvem negra de indefinição política.
Ninguém a quererá mas o arrastamento desta crise subliminar ameaça transformar tudo, e abertamente, num pântano. 
De certa forma, o actual fim de regime traz consigo a possibilidade do fim do regime.

Pedro Garcia Rosado

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